domingo, dezembro 02, 2007

Quando o Papai Noel chega mais cedo...

Brasil, o país da sacanagem, da mega carga tributária, das belas praias, das belas mulheres, do Carnaval e, principalmente, do futebol...
Futebol esse que desde nossa fecundação, ainda no útero materno, nos carimba com a alcunha de um clube... “Esse aí vai ser Santista”, disseram os anjos quando eu ainda nadava na barriga da minha mãe.
Cresci assim, Santista, sabendo que um dia meu time teve um tal de Pelé que fazia guerra parar, a terra tremer... Que fazia da bola sua escrava, colocando ela em seu devido lugar e dizendo: Aqui quem manda sou eu, pô! Você vai e entra ali no canto daquele pobre chamado goleiro, e ela ia quietinha e obediente. Agora, você vai ali, por baixo das pernas daquele infeliz zagueiro ok? E ela ia... Submissa, incapaz de tentar mudar sua trajetória, pois ela sabia que, se o fizesse, jamais seria imortalizada...
Só que na minha infância eu nunca tive moleza não... Ser Santista era difícil, tínhamos Camilo, Maurício Cupertino, Capixaba, Demétrius (cuja alcunha era O Gladiador), Neizinho e tantos outros... E isso, era sinônimo de gozação... Na escola, eu era um pobre coitado. A viúva do Pelé. E eu cheguei caluniar os deuses. Pô, por que eu sou Santista? Todo mundo me esculhamba. E esse Pelé? Que saco! Não podia eu ter nascido uns aninhos (talvez uns 30) antes??? E eles, nos meus sonhos me diziam, calma Alex, um dia as coisas mudam. Tenha fé. Peça para o Papai Noel.
E eu pedi. Um dia, aos pés da árvore de Natal, coloquei um bilhete escrito assim:

Caro Papai Noel

Gostaria de ser campeão. É, campeão mesmo. Por que não agüento mais o pessoal me sacaneando na escola. Eu queria mesmo era ser campeão em cima do Corinthians. Por que a maioria dos meus amigos são corintianos e vivem me enchendo o saco.

PS: Eu não agüento mais esperar. Dá para ser logo?

Tudo de bom

Alex

E deixei ela lá, bem do lado do bezerro do presépio. Quem sabe dava certo?

E naquele ano nada. Achei que o bezerro tinha comido meu papel. E nos outros nada. Será que o Papai Noel tinha usado minha carta para forrar o trenó??? Santos campeão... esquece.

E eu fui crescendo, fazendo novas amizades, e o Santos perdendo, sendo desclassificado...

Nestes meus 32 anos conheci muita gente legal. Corintianos, vários. Se eu começar a elencá-los aqui posso cometer o pecado de deixar alguém de fora. Mas no final deste blog, vou listar alguns mais recentes (outros nem tanto) e que estão mais próximos de mim ultimamente.

Tive uma namorada corintiana (aliás a outra também era), e na casa dela todo mundo era corintiano. Santos X Corinthians era uma merda. O Santos perdia e eu era humilhado. Me lembro de 2001. semifinais do Paulistão. Nós estávamos na fila fazia mais de 10 anos. E se ganhássemos do Corinthians, praticamente seríamos campeões porque a outra semifinal era uma barbada (Botafogo de Ribeirão Preto x outro time que não me lembro). Jogo no Morumbi. Minha casa cheia de amigos (santistas e corintianos). O Santos a um passo de um título. Só precisávamos do empate. 47 do segundo tempo. 1 x 1. Nós tínhamos um bom time. Rincón, Fábio Costa e outros. Eles também, Marcelinho Carioca, Gil e outros... Só que nós tínhamos um tal de André Luiz e eles, um tal de Ricardinho (que em 2004 fez um dos gols do Bi)... E por uma daquelas grandes sacanagens do destino... Gol... Gol? GOOOL???? É, Gol do Corinthians... e mais uma vez ficamos na mão. Lembrei mais uma vez do Papai Noel. Com decepção e um pouco de raiva. Velho sacana.

2002. Campeonato Brasileiro. Última rodada da primeira fase. O Santos capengando com um time de moleques em 8º conseguiu sua classificação por uma daquelas ironias do destino. Beleza, pensei, classificamos!!! E viva o Gama! Agora vem o São Paulo, melhor time da primeira fase. Sansão x Golias. Será que dá? O empate é deles. Nosso time só tem garotos. Eles tem o Kaká, o Luis Fabiano e nós? Diego e Robinho mal saíram das fraldas! Mais uma vez seremos humilhados. Pelo menos não vamos perder do Corinthians, pensei.

Ganhamos do São Paulo. Tiramos o melhor time do campeonato. Injustiça? Não! Competência nossa! Ganhamos na hora certa! E não é que esses moleques jogam bola?

Ah, mas agora tem o Grêmio. O Grêmio do Danrlei. Vamos perder... Ganhamos aqui. E Perdemos lá... Na bola e na porrada. No banco, o Leão rugia como se estivesse enjaulado. Só que na soma dos resultados, deu nós. Beleza!
Estamos na final!
Contra quem? Corinthians??? Ah não! De novo não!!! Eu já nem me lembrava mais do Papai Noel. Será que ele ainda se lembrava de mim? Vou sacanear esse cara de novo, ele deve ter pensado... E gargalhava enquanto coçava sua longa barba branca.
Primeiro jogo da final: 2 x 0! Hã? Ganhamos? Ô loco... É zebra. Mas no outro jogo a gente perde. É sempre assim.
Segundo jogo: Pedala Robinho! 1 x 0! Gol deles... 1 x 1... Xi.... Caiu a casa 2 x 1 para eles... Ta vendo? Não disse... Opa! 2 x 2! Não acredito! 3 x 2 para nós! CAMPEÃO BRASILEIRO DE 2002! Papai Noel eu te amo!

Daí em diante, com exceção aos 7 x 1 de 2005 eu nunca mais fiquei com aquela mágoa do bom velhinho. Ele existe. Basta acreditar.

2007. Classificados para Libertadores. Campeões Paulista, alias, Bi-Campeões. Tá bom.

02.12.2007, 18:00hrs recebo um telegrama da Lapônia.

Caro Alex,

Recebi sua carta, desculpe a demora para responder. Essa época do ano é muito corrido aqui. Estou com alguns duendes afastados por LER...

Sobre seu pedido: Já te mandei em 2002 este presente. Tenho outros na frente. Serve uma Libertadores 2008?

PS: Para que você não fique sem nada, vou mandar para você um presente indireto. Aliás, para você e para mais uns 100 milhões de brasileiros...

Feliz Natal!

Papai Noel.

E assim, encerro minha nota de hoje. Em homenagem a meus grandes amigos corintianos que, brincadeiras a parte, devem estar bem chateados. Tudo na vida passa. Inclusive a segundona. Prometo acompanhar quem quiser em um jogo no ano que vem. Pode me cobrar.

O mais legal do futebol é isso. A alegria de muitos, a chateação de outros... Mas que tudo termine num ambiente de paz. E isso é o Natal...

Fê(s), Bob, Erik, Rick, Fabio Boi, Américo, Rogério, Zé, Breno, Marino e tantos outros camaradas que considero (embora corintianos...): FELIZ NATAL!