sexta-feira, agosto 05, 2011

A marmita e eu

Amante leitora, amigo leitor: todo mundo que já passou por aqui com certeza foi seduzido pela minha promessa de “PERCA SEU TEMPO, RIA COMIGO” sabe que uso de acontecimentos do cotidiano para achar coisas engraçadas e ao mesmo tempo fazer um paralelo com minha vida.

Pois bem, recentemente voltei a trabalhar em São Paulo e, conseqüentemente, utilizo de transporte público no meu dia de rodízio ou naqueles dias que eu acordo com uma baita vontade de passar sufoco.

Na última segunda, mais uma vez participando do meu eterno Big Brother Divino, tomei o metrô e um senhor encostou de maneira compulsória sua bolsa na minha perna. É claro que sendo só a bolsa já estava bom demais, pois, como mencionei em posts anteriores, ser encoxado não é uma experiência nada agradável...

Logo que a bolsa dele encostou em mim, senti um frio súbito e pelas dimensões do objeto logo identifiquei: MARMITA! Ou seja, a marmita dele, recém tirada da geladeira (onde passou a madrugada em pleno repouso) estava naquele momento sendo aquecida pela minha perna esquerda... E eu,numa batalha hercúlea, tentava me afastar daquele bloco de gelo que insistia em tentar me congelar logo cedo...

Quando o senhor percebeu o meu incômodo, de imediato conseguiu nos salvar (eu e a marmita dele), só que daí enquanto eu me aquecia novamente me veio à cabeça algumas histórias que aconteceram comigo e com a marmita (a minha) no passado e que, é claro, vou dividir...

Antigamente, em casa todos levavam marmita... Eu, meu irmão, meu pai (que levava duas – uma só de frutas!) e minha mãe...

Naquela época a maioria das empresas não forneciam refeições... Isso era coisa rara... Tíquete era um verdadeiro artigo de luxo... E pra mim, cujo primeiro emprego (oficial) foi num escritório na Rua Augusta, é claro que eu tinha que levar a marmita...

A hierarquia em casa era assim: os mais velhos tinham as melhores marmitas, que eram de metal e o pangaré aqui tinha uma tupperware redonda que era péssima para esquentar e adorava alagar... É meu amigo, quem carregou marmita sabe exatamente o que estou falando...

Então eu usava a de plástico e meu irmão a de metal... A dele era fácil de fechar e a minha era um sufoco... Mas até aí tudo bem...

Nesse primeiro emprego não tinha marmiteira e só eu levava rango. Na hora do almoço era um transtorno pra esquentar porque eu tinha que adaptar uma panela como marmiteira e sempre ficava um pedaço dela pra fora. Daí minha marmita virava metade refeição e metade sobremesa (porque o lado gelado parecia um sorvete). Eu acabava misturando tudo e um abraço...

Na segunda empresa que trabalhei já tínhamos marmiteira. Que beleza! Mais ou menos... Pra quem não conhece, marmiteira é uma espécie de chapa em que se coloca água e as marmitas ficam em banho maria... Se fossem obedecidas regrinhas básicas do tipo: não colocar água demais ou não colocar pouca água, a marmiteira seria a 2ª maior invenção do homem depois da roda, é claro... Mas, como na época eu já participava do Big Brother Divino Juvenil, a minha marmita de vez em quando era vítima de alagamento ou simplesmente derretia a borrachinha e ela ficava deformada... Várias tupperwares da minha mãe morreram na minha mão... Culpa da copeira... Tomei sopa muitas vezes... Culpa da copeira também...

Certa vez fui promovido (em casa) e herdei a marmita metálica do meu irmão. Agora com a marmita metálica, nada de rango aguado! Vida longa ao tupperware que resistiu... Só que a marmita metálica tem um agravante... Ela, quando vazia, faz um típico barulho de tamborim... Principalmente quando você carrega numa mochila praticamente vazia e ousa levar uns talheres...

Naquela época eu estudava no período noturno e a marmita vazia ia comigo. Tinha uns caras que sacaneavam do tipo: E essa marmita aí? E eu falava: Não, são cadernos e minha agenda...

Tá bom...

Um dia, ou melhor, numa noite dessas quando eu voltei do intervalo notei que haviam sacaneado comigo. Um cara que sentava perto de mim (Tucano era o apelido dele porque ele tinha uma napa daquelas) teve a moral de abrir minha mochila, tirar a marmita com os talheres e colocar em cima da minha mesa (com o pano de prato)... Eu cheguei e vi aquele piquenique e não tinha onde enfiar a cara... Bullying em 1991... Tá explicado porque naquele ano eu não peguei ninguém na escola...

Desse dia em diante, parei de levar a marmita na mochila. Na verdade eu fazia de tudo para dar tempo de chegar em casa e deixar a danada lá. Nunca mais ninguém fez piquenique na minha carteira... Eu havia vencido!

Passado um tempo, eu já trabalhava no antigo Banco Econômico e recebia tíquetes mas, como fazia faculdade que não era nada barata, eu acabava tendo que vendê-los, ou seja, a marmita e eu ainda éramos grandes companheiros...

A sorte é que eu trabalhava apenas 6 horas e, por conta deste horário curto, dava tempo de sobra de ir em casa e deixá-la antes da faculdade. A única coisa que eu havia abolido definitivamente era a mochila. Hoje carregar mochila significa ser descolado, ter notebook, etc... Antes era sinônimo de: aquele cara carrega marmita. E por isso eu passei a colocar a marmita dentro de um envelope. Estes pardos de correspondência interna entende? Era grande, eu dobrava pelo meio e a marmita ia lá como se fosse um monte de documentos... “Sou um empresário juvenil ou um despachante aduaneiro” - pensava...

A agência que eu trabalhava ficava na Avenida Ipiranga bem na esquina com a Rua do Boticário. Pra quem conhece, sabe que ali não é um dos lugares mais bonitos de se andar porque é uma parte do Centro meio abandonada. Muito lixo nas calçadas, cinemas e teatros de conteúdo nada trivial, viciados e principalmente batedores de carteira... E eis que, num dia desses, descobri que os trombadinhas tinham um novo nicho... Os batedores de marmita...

Sai eu, da estação República do metrô, com meu envelopinho gelado embaixo do braço e logo que cheguei na esquina da Dom Jose de Barros, um cara me deu um tranco e VUPT! lá se foi minha marmita... Na hora eu fiquei sem ação. Fui assaltado! pensei... Opa! Era minha marmita! E comecei a rir da situação em pleno Centro de São Paulo. O mais estranho eram que as pessoas olhavam e não entendiam... Esse cara deve ser maluco. Acabou de ser assaltado e está rindo. Daí eu comentei com um cara (que depois descobri ser um dos comparsas... talvez ele que tenha me empurrado): Roubaram minha marmita! E segui meu caminho ao trabalho pensando no que tinha acabado de acontecer...

Pra minha grande surpresa, logo à frente um cara me cutucou: Ei, foi mal... Desculpa aí. Toma de volta sua marmita...

Eu ainda disse: Valeu! Vou almoçar hoje!

Cheguei no trabalho, contei a história e tenho certeza que muita gente que está lendo isso aqui não deve acreditar mas... aconteceu!

Por isso, pra começar bem esse fim de semana, desejo que ninguém no planeta tenha sua marmita levada. E se caso isso acontecer, que à devolvam sem roubar uma coxa de frango sequer!

Até a próxima!